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Por que a carne brasileira está barata e o que esperar

O mercado da carne segue um ciclo que varia de 3 a 5 anos, dependendo de diversos fatores, como a produtividade do rebanho. Esse ciclo considera desde o planejamento de emprenhar as fêmeas até a carne chegar à mesa do consumidor. As etapas são definidas conforme o tempo e a performance dos animais: estação de monta (período de emprenhar as fêmeas): 3 a 5 meses; gestação da fêmea: 8 meses; idade que o bezerro é desmamado: 9 meses; período de desenvolvimento do animal (equivalente à adolescência): 9 meses; período de terminação (engorda do animal para ganhar carne): 3 meses; abate e distribuição: 1 mês. O que dá um total de 33 meses. Em outras palavras, a carne que chegou hoje na mesa do brasileiro começou a ser produzida em 2021.

Durante os últimos meses, o setor pecuário brasileiro tem enfrentado uma queda nos preços da carne devido ao aumento recorde na oferta. No primeiro trimestre de 2024, segundo o IBGE, foi abatido o maior volume de animais desde 1997, 24,6% a mais que no mesmo período de 2023, com 46,2% desse total sendo fêmeas. As exportações têm ajudado a escoar a produção, mas os preços por tonelada são menores que no ano passado.

Com isso, os produtores têm liquidado mais animais para fazer caixa, pois suas margens estão menores e eles não podem estocar carne esperando por uma melhora no mercado. Esse excesso de oferta é consequência de um período de 2020 a 2022, quando os preços da carne estavam altos e os custos de produção baixos, tornando o setor lucrativo e incentivando o aumento dos rebanhos. O reflexo disso era percebido pelos recordes de preços nos touros reprodutores, recordes de vendas de sêmen pelas centrais, entre outros. Porém, esse cenário acabou ficando no passado e hoje chegamos, no que tudo indica, ao ponto baixo deste ciclo.

O que nos faz crer que chegamos ao ponto baixo do ciclo? Internamente, a alta participação de fêmeas nos abates em 2024 indica uma futura redução na produção de bezerros, diminuindo a oferta de carne nos próximos anos. Externamente, o preço internacional da carne brasileira está defasado, e os maiores produtores e exportadores de carne, como EUA, Austrália e Argentina, estão em fase de recomposição de rebanho.

Na América do Norte, por exemplo, segundo a USDA, fechou 2023 com o menor rebanho de fêmeas desde 1962, o que ocasionou o aumento na importação da carne brasileira pelos americanos. Na Austrália, vive-se o mesmo estágio brasileiro, com excesso de oferta de carne e preços baixos. Na Argentina, enfrentou-se uma seca intensa no final do ano passado, o que forçou a redução do rebanho. Com isso, prevê-se uma tendência de alta nos preços da carne, com uma diminuição na oferta que deve atingir seu pico em 2025, podendo durar até 2027, quando enfim impactará na mesa do consumidor

José Artur Affonso, pecuarista e diretor de marketing da Associação Brasileira do Santa Gertrudis.

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